domingo, 20 de outubro de 2013

O uivo...


 uivava, como um lobo cinzento, aguerrido
olhos vermelhos focavam olhos amarelecidos
[os olhos dos lobos são da cor do mel]
o homem uivava para sentir a vida.

sentia a  dor que nascia das palavras
as palavras que contavam sobre si mesmo
 [o homem é um ser crédulo, inventa sobre si mesmo]
 precisa acreditar nas histórias que inventa.

diz-se ‘humano’, superior,  diferente dos outros animais
porque domina as palavras, cria seu “saber”
[sua riqueza e sua desgraça.]

mas, as histórias contam o que não é
mostram só as sombras do homem
[ a verdade está sempre oculta nas palavras]
a linguagem verbal não supera outras linguagens
o olhar, a lágrima, o gesto, o movimento corporal... – a essência

os lobos ‘vivem’ os momentos , não sabem do futuro
que as palavras apontam para os homens, morte
o homem, então,  encarna o lobo
 uiva para sentir.

depois se entrega às palavras , que inventa
 para “ florear” os momentos que lhes escapam
velozes,  pelo vão dos pensamentos.
e, sem saber apreender [o presente] nem sentir o momento
uiva como o lobo [ a vida efêmera que lhe escapa]
vira lembrança, vira desejo – é palavra contada
um (in)vento que fixa os momentos, transformados em histórias
vento vazio, vento frio -  esta angústia
de “saber” que acaba

ficam as palavras
um falso uivo
de si.















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